Essa nossa língua...

A questão da língua que se fala, a necessidade de nomeá-la, é uma questão necessária e que se coloca impreterivelmente aos sujeitos de uma dada sociedade de uma dada nação. Porque a questão da língua que se fala toca os sujeitos em sua autonomia, em sua identidade, em sua autodeterminação. E assim é com a língua que falamos: falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? Leia mais.

No entanto, podemos concordar em um ponto: as discussões no tocante à nossa linguagem devem estar em constante fomento, a fim de que, tanto a unificação, quanto questões particulares de cada país cuja língua mãe é o português, possam contribuir de diversas formas para o progresso destas nações.

Nosso enfoque é o Brasil, e este blog, mais que acadêmico, se apresenta como fonte de consulta, por um diálogo entre todos aqueles que, como disse Caetano Veloso, gostam de sentir sua língua roçando a língua de Luíz de Camões. Ou ainda, aqueles que pensam como Chico Buarque: que a palavra é anterior ao entendimento, o coração do pensamento...

terça-feira, 9 de junho de 2009

No início era a palavra. Hoje também.

Por Thiago Alves


A Língua! Quanta inquietação, fascínio, perplexidade nos causa o farfalhar das palavras. Mais que o paladar, o mistério, o encontro com o outro pela palavra, essa arma ardente de vida e morte, que constrói castelos e sepulta almas. Ao longo da sua história, o homem e a mulher na sanha imortal de se encontrar, foram fazendo códigos que traduzem sentido. A Palavra é mais uma entre tantas formas de expressar a humanidade presente em nós. Desde o paraíso adamítico, só antecipado pelo Verbo, a palavra já era a força criadora.

O “faça-se” era a própria ação que criava. Isso foi uma brilhante intuição do povo
exilado na Babilônia que redigiu o Gênesis já no século V a.C. E assim criando, passou a ter vida própria. Sentimento, aparência. Tanto que fez Luis Fernando Veríssi
mo se interpelar sobre sua estranheza. “Já pensou, o que significa esdrúxulo? Palavra feia, não? Autóctone? Meu Deus! Seborréia?

Defenestrado? Muitos de nós se recusaria a aprender uma língua se soubesse que ela continha tal vocabulário. Outras, porém, nos convencem o contrário. Sílfide, parece que faz evoluções no ar quando pronunciada...”Mas essa mesma língua que nos cria e assusta, é também construída por nós enquanto sujeitos em relação. A Língua é produto social. Não se enjaula em livros com suas gramáticas, tratados, acordos ou reformas. Nós a fazemos. O papel só guarda o formal mínimo e necessário, mas
a vida está fora de tudo isso. Está nos seres em relação.

Toda discussão sobre mudanças no modo como nos expressamos pela palavra, seja oral ou escrita, precisa ser pensada a partir dos indivíduos que se relacionam. Nunca somente pela cabeça de “brilhantes analistas da linguagem” lotados em universidades.

Criaríamos santos para devotos invisíveis. Teríamos a nefasta “língua certa” que não corresponde aos usos reais efetivos nem sequer das nossas elites urbanas mais letradas.

O último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que promoveu algumas mudanças na escrita dos países de língua portuguesa na tentativa de aproximar e de facilitar a comunicação oficial entre Angola, Moçambique, Cabo verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal gerou grande confusão. A mídia, erroneamente, o apresentou como unificação da língua. Grandes “nomes da gramática nacional” tomaram os meios de comunicação para “esclarecer” a nação. Os que postulam uma língua presa às normas rígidas se exaltaram. Pouco se falou que o acordo não modifica o modo como pronunciamos as palavras e sim como as escrevemos, trazendo algumas regras diferentes para os acentos, o uso do hífen, das letras maiúsculas e a
inserção oficial das letras k, w e Y no alfabeto que passa a ter 26 letras.

Para além de falsas polêmicas suscitadas por quem não entende a dinâmica da língua, impossível de ser modificada por um simples ato de correção ortográfica, é preciso saborear e viver o que significa a linguagem pela palavra. Aquela dos dramas humanos mais profundos, das alegrias mais fascinantes, dos feitos e amores mais inacreditáveis, celebrados tanto pelos grandes gênios da literatura mundial quanto pelas pessoas simples e anônimas do mundo real.

Aquela dos homens e mulheres, herdeiros do paraíso transformado do nada pela força criadora da palavra.

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