Essa nossa língua...

A questão da língua que se fala, a necessidade de nomeá-la, é uma questão necessária e que se coloca impreterivelmente aos sujeitos de uma dada sociedade de uma dada nação. Porque a questão da língua que se fala toca os sujeitos em sua autonomia, em sua identidade, em sua autodeterminação. E assim é com a língua que falamos: falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? Leia mais.

No entanto, podemos concordar em um ponto: as discussões no tocante à nossa linguagem devem estar em constante fomento, a fim de que, tanto a unificação, quanto questões particulares de cada país cuja língua mãe é o português, possam contribuir de diversas formas para o progresso destas nações.

Nosso enfoque é o Brasil, e este blog, mais que acadêmico, se apresenta como fonte de consulta, por um diálogo entre todos aqueles que, como disse Caetano Veloso, gostam de sentir sua língua roçando a língua de Luíz de Camões. Ou ainda, aqueles que pensam como Chico Buarque: que a palavra é anterior ao entendimento, o coração do pensamento...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A questão política da língua

Por Gustavo Fernandes Paravizo Mira

É interessante observar as mudanças na nova ortografia da língua e a relevância dessas alterações no aprendizado e no contexto das pessoas que já fazem uso desse instrumento, agora tão em voga na mídia devido ao acordo da língua portuguesa, promovido pelos países falantes desse idioma.

No entanto, há outras roupagens além das alterações de trema, hífen e ditongos abertos. A língua não se restringe apenas ao uso e a uma posição resignada à expressão. Esse é o caminho que pode e deve ser explorado pelos jornalistas em geral, que preferem o cômodo, a aplicação básica, em detrimento de uma análise mais profunda de conjunturas que influenciam diretamente a questão lingüística e diplomática entre, no caso, os países.

A língua é viva, pulsante e social. Sua representatividade em cada povo é imanente a cultura, bem como sua identidade e legitimação. Portanto, não é simples retificar algo que pertence a coletividade, que está arraigado na origem e desenvolvimento de um povo, especialmente quando não ocorre diálogo com quem realmente verá as mudanças na prática, que decidirá se elas realmente terão relevância.

A língua é uma construção. É importante observar a relação histórica para explicar, por exemplo, a resistência de Portugal quanto a nova ortografia. Argumentam que as alterações, para a maioria dos povos lusófonos, chega a 0,5% do total de palavras e que para os portugueses, falantes mais tradicionais devido a origem européia da língua, (na Galícia), 1,5%. Embora seja considerável a alteração, e assumidamente Portugal seja diretamente afetado com as mudanças, existem fatores que não são atingidos pelas observações técnicas convencionais, e que merecem cuidados especiais.

O país sofre um processo não muito agradável de suplante por parte do Brasil, país que mais incentivou a reforma, e que possui um passado recente muito atrelado a Portugal, devido ao domínio e ao modo de produção exercidos por mais de três séculos. Contudo, os europeus assistiram o crescimento brasileiro e, em momento nenhum lhes ocorreu a idéia da posição estratégica que o país assumiria no século XXI, aliando-se aos Estados Unidos e a China.

Com proporções continentais e inúmeras riquezas naturais, o Brasil é um dos países que mais crescem no mundo e a oitava economia mundial, segundo o IBGE. Grande exportador agrícola e de minérios, aufere receitas significativas, enviando à todas as partes do mundo seus produtos, o que possibilitou um significativo desenvolvimento nas últimas décadas, principalmente depois do fim do regime militar. Outro ponto relevante é a quantidade de falantes brasileiros, cerca de 180 milhões de pessoas, o que mostra a sua importância ante a língua, visto que mundialmente o português conta com cerca de 240 milhões de falantes, em sete países.

Todas essas características garantem ao Brasil uma espécie de influencia - econômica cultural e política -, e coloca-o como porta-voz do bloco formado pelos países de língua portuguesa, ao passo que Portugal, embora inserido e impulsionado pela zona do euro, não se desenvolve no mesmo ritmo dos outros grandes países europeus. Seu crescimento econômico é comparado ao dos países do leste europeu, antigamente participantes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

O que se percebe, é que além da língua, existem outros fatores determinantes quanto a aceitação ou não de uma reforma ortográfica, que muitas vezes envolve mais variáveis do que as já visíveis, aplicadas também ao uso e praticidade do idioma, e que devem ser evidenciados através do jornalismo, do foco que apenas o profissional jornalista é capaz de regular.

terça-feira, 9 de junho de 2009

No início era a palavra. Hoje também.

Por Thiago Alves


A Língua! Quanta inquietação, fascínio, perplexidade nos causa o farfalhar das palavras. Mais que o paladar, o mistério, o encontro com o outro pela palavra, essa arma ardente de vida e morte, que constrói castelos e sepulta almas. Ao longo da sua história, o homem e a mulher na sanha imortal de se encontrar, foram fazendo códigos que traduzem sentido. A Palavra é mais uma entre tantas formas de expressar a humanidade presente em nós. Desde o paraíso adamítico, só antecipado pelo Verbo, a palavra já era a força criadora.

O “faça-se” era a própria ação que criava. Isso foi uma brilhante intuição do povo
exilado na Babilônia que redigiu o Gênesis já no século V a.C. E assim criando, passou a ter vida própria. Sentimento, aparência. Tanto que fez Luis Fernando Veríssi
mo se interpelar sobre sua estranheza. “Já pensou, o que significa esdrúxulo? Palavra feia, não? Autóctone? Meu Deus! Seborréia?

Defenestrado? Muitos de nós se recusaria a aprender uma língua se soubesse que ela continha tal vocabulário. Outras, porém, nos convencem o contrário. Sílfide, parece que faz evoluções no ar quando pronunciada...”Mas essa mesma língua que nos cria e assusta, é também construída por nós enquanto sujeitos em relação. A Língua é produto social. Não se enjaula em livros com suas gramáticas, tratados, acordos ou reformas. Nós a fazemos. O papel só guarda o formal mínimo e necessário, mas
a vida está fora de tudo isso. Está nos seres em relação.

Toda discussão sobre mudanças no modo como nos expressamos pela palavra, seja oral ou escrita, precisa ser pensada a partir dos indivíduos que se relacionam. Nunca somente pela cabeça de “brilhantes analistas da linguagem” lotados em universidades.

Criaríamos santos para devotos invisíveis. Teríamos a nefasta “língua certa” que não corresponde aos usos reais efetivos nem sequer das nossas elites urbanas mais letradas.

O último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que promoveu algumas mudanças na escrita dos países de língua portuguesa na tentativa de aproximar e de facilitar a comunicação oficial entre Angola, Moçambique, Cabo verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal gerou grande confusão. A mídia, erroneamente, o apresentou como unificação da língua. Grandes “nomes da gramática nacional” tomaram os meios de comunicação para “esclarecer” a nação. Os que postulam uma língua presa às normas rígidas se exaltaram. Pouco se falou que o acordo não modifica o modo como pronunciamos as palavras e sim como as escrevemos, trazendo algumas regras diferentes para os acentos, o uso do hífen, das letras maiúsculas e a
inserção oficial das letras k, w e Y no alfabeto que passa a ter 26 letras.

Para além de falsas polêmicas suscitadas por quem não entende a dinâmica da língua, impossível de ser modificada por um simples ato de correção ortográfica, é preciso saborear e viver o que significa a linguagem pela palavra. Aquela dos dramas humanos mais profundos, das alegrias mais fascinantes, dos feitos e amores mais inacreditáveis, celebrados tanto pelos grandes gênios da literatura mundial quanto pelas pessoas simples e anônimas do mundo real.

Aquela dos homens e mulheres, herdeiros do paraíso transformado do nada pela força criadora da palavra.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Quanta mudança!

Por Daniel Fernandes

Entenda um pouco mais sobre a origem do acordo que mudou a forma de escrever a língua falada em oito países


A reforma ortográfica vigente no Brasil desde primeiro de janeiro de 2009, causou muita polêmica na sociedade. Porém, o que pouca gente sabe, é que a reforma não surgiu tão de repente; não foi de uma hora para outra que se resolveu mudar a grafia de algumas das palavras do idioma que é falado em oito países.

Na realidade, a reforma ortográfica faz parte do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que foi assinado em 1990. O acordo foi fruto de uma negociação entre a academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, que já tratavam do assunto desde a década de 1980. Porém, desde sua assinatura, o acordo passou por algumas alterações e as mudanças passaram a valer apenas após a publicação do decreto de nº 6.583, em 29 de setembro de 2008, que fez valer a unificação da língua portuguesa.
Outra dúvida que assola a população é sobre as razões que levaram às mudanças. O intuito principal das alterações é a uniformidade da língua portuguesa em todos os países que o falam: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, que após sua independência, em 2004, também aderiu ao tratado.
Com a unificação da gramática, pretende-se fazer com que o português seja uma língua que ganhe força no cenário mundial, e com uma padronização que acabe com as diferenças entre o português brasileiro e o falado nos países africanos, no Timor Leste e em Portugal, nossa língua poderia enfim ganhar relevância no cenário mundial. As diferenças são tão grandes que, enquanto no Brasil só 0,5% das 110 mil palavras de nosso vocabulário serão modificadas, no restante dos países lusófonos, a mudança será de 1,6% do total.

A padronização da escrita já existe nos países de língua espanhola da América Latina e a Espanha, terra-mãe do idioma. A iniciativa não acabou com as diferenças entre o castelhano, falado na América do Sul, e o espanhol tradicional, mas agregou a forma de se escrever, juntar assim a gramática desses países.

Muitas são as críticas no Brasil em relação às novas regras. Porém, em Portugal, onde haverá quase o triplo de modificações na gramática, os protestos são ainda mais veementes. Os portugueses acusam o Brasil de possuir interesse político e econômico com o acordo, e não apenas cultural. Segundo nossos patrícios, que detém o domínio no mercado editorial dos países que falam o português, os brasileiros estariam tentando assumir o lugar de Portugal, já que estaria havendo um abrasileiramento da língua. O deputado português, Vasco Graça Moura, declarou que “o tratado serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo”.

E dessa maneira, com crítica vindas de todos os lados, a reforma entrou em vigor e exige atenção de todos em relação à nova forma de escrever. Por enquanto, as antigas regras ainda valem, ou seja, se você ainda escreve idéia ao invés de ideia, você não está errado. Porém, é melhor dar uma olhada nas novas gramáticas, pois, a partir de 2012, escrever ao estilo antigo estará errado.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Na Língua, as opiniões

Por Tim Gouveia

Estudantes do último ano de jornalismo opinam sobre reforma ortográfica e ambiguidade.


Pois é, a reforma ortográfica terá menos mudanças aqui no Brasil que em Portugal, mas isso não muda o fato de que toda a população brasileira e seus mais de 14 milhões de analfabetos terão, cedo ou tarde, que se ver cara a cara com as mudanças ortográficas.

Todos que tem a oportunidade de estudar devem, em tese, aproveitar ao máximo a chance de aprender os usos da “boa expressão textual”, uma vez que todos os ramos profissionais dependem, em maior ou menor grau, da palavra escrita.
Como antevisto, aqui em Língua Geral, estamos em um momento de transição, em que uma série de normas gramaticais perdem sua validade, e dão lugar a outras. Neste contexto, podemos destacar a preocupação do jornalista em relação à sua produção textual, principalmente nos veículos de informação impressos.
Para tanto, busquei a opinião de estudantes de jornalismo, no último ano de curso. Eles falaram sobre a importância do texto e os cuidados que devem ser tomados na produção de sentido.

Segundo Felipe Lopes, a formação acadêmica permite ao futuro jornalista um entendimento pleno do compromisso de se escrever um texto que traduza fins informativos, mas que a atenção entorno das novas regras terá que ser maior. Com visões semelhantes, Maristela Paiva acredita que a unificação visada pelas novas regras é positiva, embora de complicada adaptação, e que só com muito estudo e dedicação extra, o jornalista poderá se ver livre de eventuais problemas, como ambiguidades indesejadas.

Manuella Resende ressalta que o Brasil tem uma grande quantidade de pessoas que ainda não estão adaptados nem mesmo às regras antigas, e que essa condição pode se tornar pior quando as novas regras forem definitivas, a partir de 2012.
O fato de adquirirmos novas normas para o modo como escrevemos também é visto como complicador da escrita e do entendimento por Felipe Domingues, para quem “a ambiguidade, em qualquer contexto textual, é polêmica”. Ele ressalta que tal recurso pode ser usado como enriquecedor ou pode produzir desentendimentos. E diz ainda que esses fatores dependem muito do público a quem o jornalista se dirige, afinal, há públicos mais “preparados” pelo contexto e pelo conhecimento prévio adquirido pelos leitores.

De modo geral os entrevistados pensam que jornalistas e professores são os que terão maior responsabilidade e imediatismo em aprender as novas regras ortográficas da língua portuguesa, e que, a atenção no que toca a ambigüidade deverá ser redobrada.

Assista ao vídeo das entrevistas: